terça-feira, 28 de setembro de 2010

COMUNICAÇÃO NA ERA ATUAL

Meios de comunicação
Texto de: Marc Raboy  e Marcelo Solervincens

O papel e o lugar dos meios de comunicação na sociedade
Tradicionalmente, as reflexões sobre os meios de comunicação centralizam-se na capacidade das instituições midiáticas e das tecnologias de comunicação de desempenhar um papel na democratização das sociedades, na criação de uma esfera pública mediante a qual as pessoas possam participar de assuntos cívicos, no destaque da identidade nacional e cultural, na promoção da expressão e do diálogo criativo. Por isso, os debates sobre as diferentes formas de censura e a propriedade dos meios de comunicação sempre formaram parte das agendas de trabalho. O sentido das perguntas propostos pelas lógicas do mercado assim como do Estado é mais de como constituir uma via para a publicidade, gerar benefícios financeiros para os acionistas e servir de instrumentos de propaganda e controle social e político.
Os novos meios de comunicação. A apropriação pelas comunidades e pelos cidadãos
O impacto dos novos meios de comunicação da sociedade dos saberes e do conhecimento está ligado à possibilidade de uma maior apropriação de quem os usa, seja como indivíduo, como comunidade ou grupo ativo. No início dos anos 70, os meios de comunicação em massa tradicionais já haviam entrado em crise à medida que o rádio, a imprensa e a televisão deixavam de lado as minorias e os assuntos locais.
Neste contexto, as mudanças tecnológicas favoreceram o desenvolvimento de projetos coletivos de comunicação. Nos anos 60 e 70, em todas as regiões do mundo, começaram a ser desenvolvidos projetos de vídeos e de emissoras de rádio locais e comunitárias contra a hegemonia e as limitações dos meios tradicionais. Estas ações foram beneficiadas com a revolução provocada pelo surgimento dos transistores, dos transmissores FM, do vídeo. Nesta etapa encontramos rádios piratas no Reino Unido, rádios livres na França, televisões comunitárias, rádios e clubes de vídeo envolvidos na comunicação para o desenvolvimento, [5] movimentos sociais usando tecnologias apropriadas para executar projetos contra a crise de representatividade dos sistemas políticos existentes e que constituem uma resistência contra os grandes meios de comunicação. Trata-se de processos de contracomunicação e processos de comunicação em interatividade social realizada pelas comunidades, por exemplo, de rádios comunitárias em zonas rurais. [6]
Estes novos atores multiplicam os espaços mediáticos e formam redes nacionais, regionais e internacionais que mais cedo ou mais tarde aparecerão no cenário político mundial, intervindo em diferentes instâncias políticas. [7]
A chegada da Internet não só teve impacto importante nos meios tradicionais como já mencionado, mas também no fortalecimento dos meios alternativos e comunitários como a rádio, a televisão e a imprensa comunitárias favorecendo processos sociais de comunicação interativa e intercâmbios em multimídia, produto da digitalização das mensagens e da integração dos “telecentros”. A Internet abriu a possibilidade de espaço inédito de intercâmbio da informação, fora dos circuitos dos conglomerados mediáticos, contribuindo para uma dimensão real ao movimento social mundial da sociedade civil em temas globais. Alguns acontecimentos nos quais a livre circulação de informação na Internet foi relevante são: a Rebelião Zapatista, em 1995 em Chiapas; a criação em rede do movimento francês ATTAC, no final de 1998; o desenvolvimento na Internet de freenets, dos Centros de meios independentes como Indymedia que mostraram sua eficácia para a cúpula da OMC, em 1999, em Seattle. Entre os movimentos recentes, destaca-se o uso de Internet para canalizar informação alternativa e organização cidadã de reação à manipulação da informação por parte do governo de Aznar, na Espanha, depois dos atentados da estação Atocha de Madrid, em 2004. Na mesma tendência de uso das TIC para o fomento de redes e meios alternativos de circulação da informação e de monitoração encontram-se: o Observatório Francês de Meios de Comunicação, o CMAQ em Québec, Pulsar na América Latina e Simbani na África. [8]
Por outro lado, o desenvolvimento dos iPod e blogs, entre outros avanços tecnológicos, somados ao uso de Internet, favoreceu a criação de novos meios de comunicação e novas experiências de jornalismo-cidadão com grande sucesso não só nos Estados Unidos e em países desenvolvidos, mas também na luta pela liberdade de expressão nos países do Sul.
Entre os novos meios de comunicação alternativos, destaca-se o desenvolvimento inédito de comunidades virtuais, em uma perspectiva de maior apropriação individual, ao mesmo tempo local e internacional. [9] Dentre os movimentos sociais e redes de cidadania na Internet com esta ótica, [10] cabe mencionar: Globalcn, Mistica, Vecam, a Comunidad Web de movimentos sociais.[11] Conforme Manuel Castells, trata-se do advento das redes como nova morfologia social baseada na interconexão e flexibilidade da nova topologia que permite circulação de enunciados que produzem novos sentidos e efeitos para a ação social e da cidadania;[12] isso permite a existência de redes de movimentos sociais, redes de cidadania e cibercomunidades sobre temas de caráter mundial como a defesa do meio ambiente, a promoção dos direitos da mulher na organização da quarta Conferência Mundial da Mulher da ONU e da Marcha Mundial das Mulheres.
Este desenvolvimento dos meios alternativos na rede com as novas tecnologias não deixa de estar enfrentado enormes desafios, entre eles, destaca-se a problemática da excessiva circulação de informação na Internet. Alguns estudos indicam [13] que, se antes havia apenas alguns meios em cada localidade, agora existem milhões de sítios acessíveis e 50% do tráfego na rede visita 0.5% dos sítios. Deste modo, a riqueza da informação traduz-se em diminuição da atenção e a questão da credibilidade da informação transforma-se em questão fundamental. (Este texto é extraído do livro Desafios de Palavras: Enfoques Multiculturais sobre as Sociedades da Informação. Coordenado por Alain Ambrosi, Valérie Peugeot e Daniel Pimienta, este livro foi publicado em 5 de novembro de 2005 por
C & F Éditions.
)

Portanto, modernamente, há novas categorias de analfabetos: os que não sabem usar os computadores, os que não possuem endereço eletrônico. Nos meios acadêmicos e, principalmente, no mercado de trabalho, a incorporação das novas tecnologias ocorre numa velocidade tão intensa que se torna difícil acompanhá-las. Porém, o homem moderno vive um paradoxo de quem não sabe ler nem escrever: goza dos direitos de cidadão mas sente-se, cada vez mais isolado pela falta do domínio das novas tecnologias de comunicação.
Não se espera da escola apenas o papel de transmitir conhecimentos. Além disso, ela deve ser uma difusora de novas tecnologias, a fim de permitir que seus alunos tenham chances de participar da concorrência de mercado de trabalho. Portanto o uso das novas tecnologias é uma necessidade que se mostra cada vez mais evidente.  
É certo, porém, que a internet abre novos horizontes para o processo educativo e põe em cheque todo o processo formal que vigorava até então. A união do texto, do áudio e da imagem faz com que o papel do professor comece a ser repensado e aponta para um futuro no qual só há uma certeza: a mudança constante.
Texto de Claudia Guerra Monteiro.Aluna do doutorado em Ciências da Universidade de São Paulo e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação daquela universidade.